

O PORTAL DA MEMÓRIA VIGIENSE


Barão de Guajará


O SISTEMA de distribuição de sesmarias iniciado nos anos 1700 foi abolido após a Independência, mas deixou o legado de poderes e privilégios aos herdeiros das terras, propiciando a dominância de uma classe economicamente desenvolvida e escravocrata, multiplicando demandas de trabalho nos engenhos, engenhocas, olarias e nas lavouras de cana-de-açúcar, café, algodão, cacau, mandioca e outras culturas. Segundo Antônio Baena, em 1939 Vigia tinha uma população de 5.130 habitantes. Em 1848, de acordo com relatório da presidência da Província, havia 798 negros escravizados. Até 1881 somavam mais de 3 mil. Entre os principais proprietários de terras estava Domingos Antônio Raiol, o Barão de Guajará, e a esposa Maria Victória Pereira de Chermont, que em sociedade com Francisco Antônio Raiol, compraram em 8 de julho de 1874 o Engenho Santo Antônio da Campina, na região do Rio Tauapará. A compra incluía os negros es-cravizados e todas as benfeitorias (casa grande, olaria, moinho, senzala e capela), onde se produzia principalmente açúcar, aguardente, telhas, louças e tijolos. Mesmo com a abolição, a população negra permaneceu no entorno da fazenda (que ainda hoje apresenta vestígios estruturais do engenho), originando a Vila do Cacau, impor-tante reduto cultural de matriz africana.
Quem era Domingos Antônio Raiol?
NASCIDO EM VIGIA, no dia 4 de março de 1830. Era filho de Arcângela Maria da Costa Raiol, herdeira de terras, e do comerciante Pedro Antônio Raiol, vereador de Vigia para o mandato de 1833 a 1836, porém morto durante o ataque cabano. Raiol estudou no Liceu Paraense, em Belém. Aos 24 anos formou-se pela Faculdade de Direito do Recife. De volta ao Pará, trabalhou como advogado no escritório do Visconde de Souza Franco. Empreendendo a carreira de político, tornou-se executivo do Império e homem de confiança do imperador Pedro II, que o nomeou presidente das Províncias de Alagoas, Ceará e São Paulo. Foi elei-to deputado provincial pelo Pará por várias vezes e deputado geral em 1864. Aos 53 anos recebeu o título de Barão de Guajará. Autor de sete livros, fundou a Acade-mia Parense de Letras, em 1900, e o Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP). Faleceu em Belém, no dia 27 de outubro de 1912, aos 82 anos.


Domingos Raiol com a esposa Maria Victória Pereira de Chermont, herdeira docasarão em Belém, onde o casal residia.

Filhos do Barão de Guajará, 1904Pedro, José, Heitor e Amélia,que faleceu precocemente. Fonte: IHGP

Solar residência do Barão de Guajará, no centro histórico de Belém,sede do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, fundado por ele.

O Barão na memória de uma filha de escravos
DOMINGAS MORAES foi entrevistada pelo jornal O liberal, de 14/09/1976, quando já estava com mais de cem anos. Ela revelou um pouco das experiências vividas junto à Família Raiol: Na abolição: “houve uma enorme festa aqui na Vigia; lá na fazenda não aconteceu nada, porque o Barão não deixou" (...) Em Belém: “assisti a uma grande festa; era a chegada do filho do Barão, que vinha dos estudos na Europa" (...) "O Barão gostava de carimbó, porém não dançava, porque era dança de preto" (...) "O Barão usava a fazenda para passar pequenas temporadas" (...) "Brigava constantemente pela qualidade da comida" (...)
Fontes consultadas:
- ALMEIDA, Wilkler. Tauapará. Vigia: Ed. Indep. 2005
- ILDONE, José. Noções de História da Vigia. Belém: Cejup,1991.
- RAIOL, Domingos Antonio. Motins Políticos. Belém: UFPA, 1970.- Jornal O Liberal, edição de 14 de setembro de 1976.