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Epdemias e Letrados

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ENTRE OUTROS problemas sociais, a segunda metade do século XIX foi marcada pelo caos das epidemias de cólera, varíola, sarampo e febre amarela, que assolaram muitas vidas em praticamente toda a Província. Até o vigário de Vigia, Pe. Luiz Aragão, foi vitimado pela varíola em 1873, sendo sepul-tado na sacristia da Igreja Madre de Deus. Os surtos intensificaram as atuações das irmandades religiosas e, apesar da resistência popular, foram implementadas mudanças sobre as práticas de enterramentos, criando-se cemitérios públicos. As circunstâncias da ocasião ocorriam em paralelo ao interesse dos jovens pela instrução. O momento era favorável para o surgimento de movimentos com propósitos assistencialistas, literários e educacionais, mas com forte teor político-idealista, destacando nomes engajados em questões abolicionistas e nas discussões políticas que eferveciam o meio comunitário, entre liberais e conservadores vinculados ao novo pároco Mâncio Caetano Ribeiro, que também colocava em prática o processo de Romanização da Igreja. Entre as entidades criadas no período, é fundada por um grupo de amigos a Sociedade Literária e Beneficente "Cinco de Agosto", em outubro de 1871, um espaço de saber e poder, que se relacionou com escravizados, vitimas de epidemias, despossuídos, deputados, presidente da Província e intelectuais renomados. Integravam-na vigienses de poucas posses, educados por aqui mesmo, como: Vilhena Alves, Bertoldo Nunes, Araujo Nunes, Livio Pinheiro, Casemiro Ferreira, Manoel Felipe da Costa, entre outros. A instituição, por alguns anos, organizou o Círio, além de oferecer à comunidade biblioteca, escola gratuita, atividades teatrais, jornais, livros, cultura, histórias. Ainda ativa, resiste, preservando a memória vigiense e defendendo novas causas.

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    Passada a época das violentas revoltas populares contra as forças legalistas do Império do Brasil, ocorridas entre 1830 e 1835, as províncias mais prejudicadas pelas seqüelas dessas agitações procuravam se soerguer. No Pará, ainda que terminada a Cabanagem, a população continuava vivendo em situação desconfortável, buscando penosamente a retomada da normalidade, principalmente nas localidades em que a revolução obteve maior efeito, ou seja, onde ocorreram conflitos: Belém, Acará, Barcarena, Cametá e Vila de Nossa Senhora de Nazaré da Vigia, como podemos interpretar ao ter contato com escritos e publicações de meados do século XIX.
A anistia geral, de 22 de agosto de 1840, foi um fator relevante no sentido de a província se recompor das marcas negativas deixadas pela revolução.
Vigia, após o período de batalhas, permaneceu sob administração do regime parlamentar, com a reconstituição da nova Câmara, em 1836, que substituiu a composição chacinada no assalto cabano ao Trem de Guerra, ocorrido em 23 de julho de 1835.
Recuperava-se o comércio, predominado por descendentes de portugueses, assim como também decorria o modesto avanço urbanístico, a movimentação no setor pesqueiro e nos empreendimentos agrícolas, embasados no sistema escravocrata. As atividades políticas, educacionais, culturais e religiosas, igualmente, buscavam expressão.
Fato relevante foi a publicação do primeiro jornal da Vigia, também estreante no interior da Província, denominado de O Vigiense, que começou a circular em 1852. A imprensa escrita, que a partir daí continuaria sempre atuante no cenário social local, estimulou bastante o florescimento da produção literária.
Em 1854, estando à frente do governo do Pará o tenente-coronel Sebastião do Rego Barros, Vigia dá um passo importante, ganhando foros de cidade, através da Lei Provincial de 02 de outubro daquele ano.
A classe intelectualizada vigiense do século XIX, representada por políticos, escritores, jornalistas, poetas, oradores, educadores, enfim... Figuras como Domingos Rayol (nascido em 1830), Araújo Nunes (1839), Bertoldo Nunes (1847), Vilhena Alves (1850), entre outros, mostravam-se dispostos e condicionados a promover um movimento de comunhão de ideais.
Assim, em 01 de outubro de 1871, foi fundada a Sociedade Literária e Beneficente “Cinco de Agosto”, encabeçando o grupo de conterrâneos o professor Francisco Quintino de Araújo Nunes, seguido do irmão Raimundo Bertoldo Nunes, Francisco Ferreira de Vilhena Alves, Alencarino Bezerra de Albuquerque, Domingos Antonio Rayol, Pe. Mâncio Caetano Ribeiro, Pe. Argymiro Maria de Oliveira Pantoja, Lauriano Gil de Souza, Manoel Felippe da Costa, Francisco de Moura Palha, Gerôncio Alves de Mello, Francisco Abrahão Furtado de Athayde, Manuel Evaristo Ferreira e demais nomes dedicados à causa do engrandecimento moral da Vigia, com intenção de promover de ações de cunho educacional, cultural e humanitário.
A entidade foi oficialmente instalada na data que lhe foi nomeada, data essa que, na época, era dedicada à festa de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da “Cinco de Agosto” e da paróquia. Vale lembrar que, na década de 1930 houve a transferência da realização do Círio de Nazaré, de agosto para setembro, ficando o 05 de agosto consagrado a Nossa Senhora das Neves, padroeira do município.
O fundador, Prof. Araújo Nunes, foi o primeiro presidente efetivo. Inicialmente, sem sede própria, a “Cinco de Agosto” foi abrigada no salão da residência do mesmo, uma casa situada ao lado da sede atual, no largo da Igreja Mãe de Deus, espaço que na ocasião era denominado de Praça “Siqueira Campos”. Esta casa, posteriormente foi adquirida pela família Soeiro.

Principais propostas e contribuições sociais

Os objetivos prioritários da “Cinco de Agosto”, conforme estatuto datado de 1905, consistiam em: distribuir a educação, o esclarecimento e benefícios ao povo, aos associados e seus dependentes, como, por exemplo, a destinação de recursos, em casos de enfermidade, e financiamento de despesas fúnebres, em decorrência de falecimento; apoiar a cultura e motivar o amor aos valores locais. Outra atividade essencial era promover, em parceria com a paróquia, o Círio de Nazaré, colaborando para a expansão da fé católica.
A parte educacional seria exercida através da implantação de uma Escola Primária e de um Externato (estabelecimento de ensino onde só há alunos externos, ou seja, que não residem no mesmo), para levar instrução gratuita à população desprivilegiada.
Nas últimas décadas do século XIX, a “Cinco de Agosto”, já enraizada no âmbito social da cidade, recebia apoio comunitário e era positivamente comentada em jornais circulantes na época: O Vigilante, O Liberal, O Liberal da Vigia e O Orvalho, de Bertoldo Nunes, ambos de cunho crítico, literário e noticioso; O Apóstolo e O Publicista, religiosos; O Espelho; O Ateneu; O Século XX, também de Bertoldo Nunes, entre outras publicações de prestígio.
O Externato era considerado um dos grandes feitos dos idealizadores da entidade. As aulas iniciavam regularmente no mês de janeiro, sendo ministradas, voluntariamente, por membros educadores, com ensinamentos em Geometria, Português, Geografia, Aritmética e Francês.
Em 1878, este contava com catorze alunos matriculados, sendo que vários deles, mais tarde, tornaram-se cidadãos influentes. Eram eles: Manoel Roque Pinheiro, Francisco de Assis das Chagas, Augusto Ramos Pinheiro, Manuel E. de V. Palheta, Manoel do Nascimento Souza, Manuel Braz F. de Ataíde, Henrique L. de Moura Palha, Raimundo José Cardoso, Luís Antonio Monteiro, Eurico Antonio Rayol, José Ferreira Monteiro, João de Almeida Pinheiro, José Maria Seabra de Moraes e Joaquim Faustino Rayol.
A aplicação e desempenho do alunado eram acompanhados pelos administradores da mesa de renda, além do promotor público, Joaquim Catanho Sobrinho, e outros amantes das Letras.  
Ao final do curso era realizado um exame para avaliação de aproveitamento, havendo também premiação ao aluno que mais se destacava, em sessão assistida por várias autoridades locais.
Ainda em 1878, no dia 01 de outubro, em comemoração ao aniversário do sétimo ano de fundação da “Cinco de Agosto”, os membros da Sociedade se reuniram na casa do presidente Araújo Nunes e decidiram que despenderiam a quantia de dez mil réis para serem doados como esmola aos mais necessitados da cidade.
Diante das benfeitorias da “Cinco de Agosto” para com a comunidade, freqüentemente eram ofertados à instituição materiais técnicos e didáticos, outras vezes também adquiridos de acordo com as disposições dos cofres da casa.
Em 1883 morreu o fundador e primeiro presidente, Prof. Araújo Nunes, aos 53 anos de idade.
Sendo considerada uma das mais antigas e importantes sociedades literárias e beneficentes do Brasil, antecedendo outras como a “Mina Literária”, de 1895, e as Academias de Letras, tendo a Brasileira surgido somente em 1896 e a Paraense em 1900, a “Cinco de Agosto” foi uma espécie de precursora desta última. A Academia Paraense de Letras (APL) foi fundada pelo escritor, advogado e político vigiense Domingos Antonio Rayol, o Barão de Guajará, da qual foi primeiro presidente.
A “Cinco de Agosto” também emprestaria outros nomes de seus associados a algumas das citadas entidades.
Na Mina Literária constavam as presenças de Bertoldo Nunes, Vilhena Alves, Bezerra de Albuquerque e Barão de Guajará.
Com o surgimento da APL, integraram-na também: Alves de Souza, Olavo Nunes, Cantidiano Nunes, Otávio Pires, Teodoro Rodrigues, o próprio Barão de Guajará, e outros, que apareceriam posteriormente para representar o Município da Vigia, que por honra recebeu o cognome de “Atenas Paraense

Acesse o Site Oficial da Cinco de Agosto, clique nesse link, os documentos históricos do Cartório Raiol e Cartório Vilhena além de outras preciosidades 

Alguns membros ilustres da Cinco de Agosto

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Sede Atual da Cinco de Agosto - em sua fachada a obra do Artista Plástico, membro e ex-presidente Wilkler Almeida

Fontes consultadas:

-ALMEIDA, Wilkler e ILDONE, José. Sociedade Literária e Benefi- cente "Cinco de Agosto" - Levantamento Histórico. E.I., 2008.

- SOEIRO, Igo. A Sociedade Literária e Beneficente "Cinco de Agosto da Cidade de Vigia (1871-1882)

- Dissertação de Mestrado. Belém: UFPA, 2012.

- SOEIRO, Igo. Os humildes peregrinos da civilização cristã: grupos letrados da Cidade de Vigia de Nazareth - Grão Pará (1866-1883)

- Tese Doutorado. Belém: UFPA, 2023.- Retrografia Vigilenga

Rua Josino Cardoso, 156

Bairro: Centro - Vigia, PA

CEP: 68.780-000

E-mail: vigiapara400@gmail.com

 

 

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© Coordenação WILTON ALMEIDA

Orgulhosamente Vigiense

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