

O PORTAL DA MEMÓRIA VIGIENSE








Conheça a história dos Hospícios de Vigia do século XVII




Segundo o Barão de Guajará, os frades carmelitanos outra ordem religiosa que apareceu por estas terras vigienses, também tiveram um igreja de menor dimensão, levantada sobre madeiras com enchimentos de terra, era em frente ao mar, na antiga rua do Carmo, tendo ao lado dessa igreja o hospício que eles residiam, os hospícios também serviam para atender os leprosos que na época assolou Vigia.
Por desleixo dos vigários daquela paróquia, não demorou que esta igreja desmoronasse, atualmente há apenas o terreno que o convento chama seu, não obstante está em abandono, há mais de cem anos, correndo sempre as despesas por conta da municipalidade.
Conta-se que os frades mercenários também residiram nesta Vila, edificando uma capela e outro hospício no quarteirão imediato aos dos carmelitanos, na vizinhança existe uma antiga igreja com a capela-mor cobertas de telhas e com as paredes lateral e do frontal apenas em meio. Este edifício porém nunca lhes pertenceu. Ao lado direito está a igreja do Bom Jesus edificada pelos fiéis, que já começaram a edificar no extremo da Travessa das Flores, onde foi o antigo cemitério de Vigia.
Segundo um escritor francês do século XVII.
Os mercenários e carmelitas também tinham seus hospícios e além destes havia-se começado outra igreja. Os habitantes são quase todos brancos e gozavam de vários privilégios concedidos pela rainha Dona Maria I e derrogados pelos governadores, como entre outros o de isenção de recrutamento. Seus moradores desprezam a pesca e se dedicam a agricultura.
Também os mercenários em 1733 a pedido da câmara e povo estabeleceram um pequeno hospício consagrado a Nossa Senhora da Conceição; e no ano de 1734 os carmelitas calçados levantaram outro hospício e igreja. Por carta régia de 11 de junho de 1761 a igreja dos jesuítas passou a ser a freguesia, e os moradores tiveram pouco cuidado na conservação deste templo, e nem acabaram a igreja que começaram a levantar no meio da Vila em razão de ser ali mais cômoda ao povo.
Nesse mesmo tempo ficaram danificados os hospícios e igreja dos mercenários e carmelitas, sendo de notar que os segundos deste religiosos conservassem até depois do ano de 1786 o seu hospício a despeito do aviso de 1º de abril de 1739 que o mandava desmoronar; há uma só igreja onde os moradores vão dedicar e tributar culto a virgem de Nazaré, padroeira da Matriz e da Vigia.
DO INVENTÁRIO CARMELITA NO EXTREMO NORTE DO BRASIL ENCONTRADO NOS ARQUIVOS DA BIBLIOTECA DE TOMBO EM PORTUGAL
Uma das maiores preocupações do diocesano era o fortalecimento do catolicismo na colônia. Para isso tomou algumas medidas importantes ao longo de seu governo. Como indicado antes, o ordinário proveu de párocos e auxiliares algumas paróquias maiores e mais distantes, como as de Cametá e Vigia, enviando carmelitas e mercedários para aquelas vilas, tanto para servir como auxiliares dos párocos locais como para trabalhar na educação das crianças.61 Também combateu casos de corrupção entre o clero secular, no que resultou na expulsão ou renúncia de parte desses religiosos.62 O crescimento de Belém também fez com que D. frei Bartolomeu criasse a freguesia de Santa Ana, na cidade, estabelecendo novo cura para aquela freguesia, em 1727. Durante as visitações pelo interior da capitania, realizou procissões nas cidades de Vigia e Cametá. Nelas, para dar o exemplo, fez a peregrinação de pés descalços, e com uma corda áspera presa ao pescoço.63 Práticas ascéticas eram comuns entre frades do Carmo, cujo carisma voltava-se à meditação e à mortificação da carne, e o bispo refletia esse carisma em suas ações.
Em 1717, após chegar de uma viagem pelo interior da capitania do Pará, o vigário geral carmelita no estado, frei Inácio da Conceição, escrevia para a coroa, relatando seu encontro com os moradores do povoado de Vigia. Os colonos, dizia, expressavam «a grande desconsolação em que viviam por não ter nessa terra religioso que os confessassem, pregassem e doutrinassem (...)».35 Aparentemente o pároco responsável pelo povoado não dava conta do número de famílias sob sua responsabilidade, principalmente daquelas que viviam em áreas mais distantes.36
Os colonos insistiam para que se construísse um hospício no povoado e ali «habitassem dois ou três religiosos capazes para os ditos ministérios no que teriam grande consolação, e particularmente pela devoção daqueles moradores para com N. Sr.ª Do Carmo e sua religião». Para tanto, os oficiais da câmara de Vigia, com o apoio de todos os moradores, logo cederam terreno para o início da empresa, aguardando somente a permissão régia.
Segundo a relação de frei João de Almeida Loureiro, apresentada em 1785 ao ouvidor geral do Estado, Mathias José Ribeiro,37 esse pedido inicial não teve resposta.
A resposta positiva da coroa veio somente em 1720, mas encontrou a oposição de Bernardo Pereira de Berredo, governador do Maranhão entre 1718 e 1722. Berredo dizia
que os frades «mentem no que intentavam», desejando colocar o mínimo de religiosos possíveis na cidade para aproveitar-se ao máximo dos recursos que os moradores de Vigia lhes concederiam.38 É provável que a oposição do governador tenha sido um dos motivos principais, senão o principal, para que o pedido dos moradores não fosse concedido prontamente.
Novo apelo é feito a D. frei Bartolomeu do Pilar, bispo do Pará, durante uma visitação do ordinário à cidade de Vigia em 1727. Assim, em 16 de setembro de 1727, com concordância de D. frei Bartolomeu, a câmara da cidade escreveu nova representação à coroa reforçando o pedido feito dez anos antes. Porém a situação se manteve.
Após longa insistência tanto dos camaristas quanto do pároco da cidade, o próprio bispo concedeu a esperada permissão e pediu ao vigário geral dos carmelitas no Maranhão que enviasse religiosos à vila. O primeiro carmelita chegou em 1733, estabelecendo-se nas mesmas terras que, anos antes, foram concedidas pela câmara ao Carmo. Ali «armou o dito religioso seu oratório particular, em que dizia missa, e vivendo com agrado daquele povo, a quem acudia com disvello nas suas necessidades espirituais, e nas temporais que podia».39Após arrematar casas e transformá-las em moradia na cidade, os carmelitas ali se estabeleceram durante todo o século XVIII.
Mantinham sempre dois religiosos, em geral servindo de auxiliares ao pároco da cidade.40
Outra carta, dessa vez de anos mais tarde, mostra a importância da presença missionária no sertão no que concernia à manutenção de práticas cristãs. Frei José da Magdalena, superior carmelita em 1755 escrevia ao govenador dando notícia de uma série de celebrações realizadas pelos missionários carmelitas no fim daquele ano.41
Fontes:
DO INVENTÁRIO CARMELITA NO EXTREMO NORTE DO BRASIL ENCONTRADO NOS ARQUIVOS DA BIBLIOTECA DE TOMBO EM PORTUGAL
- RAIOL, Antônio - Motins Políticos