

O PORTAL DA MEMÓRIA VIGIENSE




Atividade pesqueira na Vigia


ATÉ A SEGUNDA metade do século XIX, as atividades ligadas à agricultura eram o sustentáculo da economia regio-nal e da elite escravocrata. O declínio do sistema muito deveu aos avanços do processo abolicionista, escassês de mão-de-obra, desinteresse e falta de investimentos, fato comen-tado em artigos de jornais da época. A pesca, até então, era praticada sem grandes perspectivas comerciais, o que mudou conforme adotada como estratégia para as transformações que ocorriam, corroborando para formar novas elites protagonizadas por proprietários de canoas vigilengas e donos de casas comerciais com vendas de materiais para pesca e para embarcações, além de sal e gêneros alimentícios destinados ao aviamento das viagens de pescaria. Afirmando-se como elemento identitário do município, no século XX as veleiras vigilengas (pesqueiras e freteiras) passaram a dominar a paisagem das águas, principal via mercantil para o porto de Belém e de escoamento de produtos, como farinha de mandioca e peixe salgado. Com o crescimento da atividade, estruturas foram imple-mentadas pelas gestões municipais, acentuou-se a demanda de estaleiros e formação de ofícios como mestres carpinteiros artesanais, ferreiros, calafates e pintores, com técnicas especializadas de fabricação de barcos e apetrechos.
Das Vigilengas às Barcas
SÍMBOLO DA CULTURA PESQUEIRA tradicional de Vigia, as canoas a vela eram construídas em estaleiros desde os tempos coloniais (a princípio improvisados e depois regulamentados pelo Código de Postura), assumindo características resultantes do cruzamento de técnicas navais portuguesas e indígenas: casco largo e costado negro, leme, porão para depósito e salga de pescados, principalmente o peixe gurijuba; velas triangulares marrom-avermelhadas, tingidas com pau de muruci, mangue ou cumatê, e sombreiro de ubin ou lona. Havia variações, como as gambarras e tapaioaras, com dois mastros, além de adaptações em sua forma para os variados tipos de pescaria, seja às proximidades da costa da Vigia ou em alto mar. A atuação das vigilengas foi assídua até meados do século XX, quando o crescente comércio de exportação de peixe e grude as tornaram pouco produtivas frente à concorrência de barcos motorizados e fábricas de gelo, surgindo novos métodos de trabalho e artifícios de pesca predatória, com grandes redes de nylon, realizada pelas barcas geleiras.

O rio tomado pelas canoas veleiras, década de 1920.
Arquivo: Família Belém

Vigilengas no Ver-o-Peso. Revista Life, 1957.

Barcos com urnas geleiras. Foto: Will Lee
Mestres da carpintaria naval, década de 1960
Foto: Porfírio da Rocha Acervo: José Ildone
Antigo Mercado de Peixe Salgado ou "Salgadeira" (demolido)Construído na gestão do intendente Luciano Neves Acervo: Retrografia Vigilenga
Antigo Mercado Municipal de Peixe (demolido)Construído em 1946, na gestão do prefeito Ruy Mendonça Acervo: Wilkler Almeida




Tela "Pesca da Gurijuba na Bocada Vigia", Wilkler Almeida, 2021


Quem vem a Vigia tem que “Tomar o caldo, chupar a cabeça e lamber o sal”. Trecho da marchinha de carnaval do bloco “Gurijubal”, se referindo a caldeirada de gurijuba, peixe tradicionalmente, de maior atrativo na culinária vigiense. De cor acinzentado, a gurijuba é um peixe comum no Norte do Brasil, seu grande valor comercial, está no “grude”, bexiga natatória, o órgão é retirado do peixe logo depois da captura, ainda no barco. Os pescadores retiram dela a gordura e o sangue e pisa em cima para prensá-la, depois é colocado ao sol para secá-lo. E em seguida é exportado para a Europa e Oriente, sendo utilizado em fabricação de remédios, colas de precisão e filtros para cervejarias. A gurijuba tem uma semelhança com o popular bagre de água doce (cabeça grande achatada, barbatanas e um corpo não muito alongado), a espécie pode chegar até 20 Kg. Com diferença que a gurijuba, pode chegar até 30 Kg. Assim como a anchova, o cação, surubim, pescada amarela, arraia, são extraídos da pesca artesanal, principal fonte de renda do município. Outro peixe que se destaca na região é o PACU (piaractus mesopotamicus), pode atingir um (1) metro de comprimento e é encontrado em todo o território brasileiro A comercialização do grude movimenta bastante o comercio vigiense muitos prefere somente negociar o precioso produto. Pois, a floresta Amazônica é uma região que tem uma das mais ricas diversidades do mundo, aqui reside uma grande variedade de seres vivos, animal e vegetal: Só de peixes são 2.500 espécies.

A pesca de mariscos


A pesca do marisco "principalmente camarão" movimenta a economia da pesca na Vigia, é comum encontrar na alta madrugada encontrar geralmente dois pescadores arrastando o pulsar na beira da maré, que é o único horário que a maré está mais calma.

Consertadores de Rede
Para onde você olha em Vigia, encontra um consertador de rede em frente as casas, é fundamental para remendar as malhas de rede danificadas na pescaria, barateando o custo para o proprietário de embarcação, se utilizam de uma agulha específica de remendo.


Estaleiros em Vigia

Estaleiros - Atualmente, o município de Vigia possui quatro estaleiros navais. Dois estão localizados no bairro do Arapiranga, um no Porto Salvo e um no Sol Nascente. Para realizar a pesquisa, Regiane fez a escolha do estaleiro que fica a beira do Igarapé da Rocinha, localizado no Arapiranga. Com 12 anos de atividade, lá é possível encontrar uma pequena oficina instalada no fundo de um quintal, onde se constroi embarcações variadas, como: barcos de pesca, cascos, montarias, além de trabalhar no aumento desses tipos de embarcações.

A captura de caranguejos e siris, também movimenta a economia de Vigia, sendo até levado para outros estados, mais o foco principal é o Mercado de Peixe Ver-o-peso em Belém, no qual o valor do mesmo se eleva e atende a população local.
A antiga pesca de currais

A antiga pesca de curral ainda se faz presente na vida do pescador artesanal vigiense. Uma modalidade de pesca que não exige do pescador uma constância no trabalho e na embarcação. A captura do peixe ocorre na hora da despesca, com a maré baixa.“O curral é um tipo de armadilha para pegar peixe, usado principalmente nas regiões ribeirinhas e nas praias. Existem vários tipos de curral. O curral de coração era muito usado em nossa região, quando o fluxo de peixe era muito grande e o rendimento aproveitável. É constituído de um deposito ou sala, de um salão ou antessala e de uma espia ou esteira”.Benedito Monteiro (Vigiense. Professor e exímio pescador artesanal. Fabrica seus próprios utensílios de pesca, inclusive para a pesca de currais)A construção do curral é feita com estacas (varões do mato, tucumanzeiro, carananzeiro etc).
Depois da estrutura montada, no deposito ou sala é colocado o assoalho onde ficará o peixe. Após isso, faz-se a parte de forra do curral com talas de inajá, de abacaba, de taboca e de marajá, vara, rede e finalmente tela de arame. Antigamente, os forros de currais eram feitos de tecido e cipós de vários tipos, como: cipó de titica – o mais resistente, de tracuá e cipó de piririca.Na atracação do curral, são usada as maleáveis e resistentes varas de murta e geniparana, entre outras. Forrado o curral, experimenta-se a pescaria. Se o bagre for bem capturado, o curral está construído corretamente. Temos também outros tipos de currais, como o “Cachimbo” (para a várzea) e o “enfia” (para praia). Ainda se vê por aqui os currais da Praia do Correio.Nos meados da década de 1960, os currais assentados no banco de areia enfrente a Ilha Nova (Araqueçaua) causaram inúmeros transtornos a navegação, sendo objeto de denuncias e desativação pela Marinha do Brasil.Em outras épocas esse tipo de pesca abastecia o público e ainda carregava as embarcações conhecidas como “geleiras”, responsáveis pelo escoamento do pescado para outras cidades e que faziam ponto no boqueirão do furo da Laura, e no estreito entre a Ilha Nova e Região do Tauapará (Colares), em frente aos igarapés do Araqueçaua e Muritinga.Com a crescente pesca predatória para atender mercados externos, a atividade de curral quase desapareceu do cotidiano da pesca local, restando poucos que se aventuram neste modo de subsistência. Vale lembrar, de alguns bravos curralista, testemunhos da abundância do peixe e da cultura pesqueira vigilenga, e que deixaram seu nome nas memórias de outros vigienses, entre tantos: Aquino Costa, Macário Pereira, Américo Pereira, Lulú Raiol e Osvaldo Silva.Na obra “Os Currais” (Óleo sobre tela) do artista plástico vigiense Antonio Coutinho, vemos a romântica cena dos currais da “boca da vigia”.



Tipo de Embarcações ultilizadas na pesca em Vigia
Pesca em Alto Mar
Barco Veleiro (250 toneladas)
Vigilenga (4 toneladas)
Pesca
Reboque (1 a 2 toneladas)
Lancha (20 toneladas)
Pesca Artesanal
Casco (1 tonelada)
Montaria (1 tonelada)
Atividade Pesqueira
Canoa a vela (1 tonelada)
Canoa a remo (1 tonelada)

Peixes encontrados em Vigia
Gurijuba

Peixe da região amazônica de coloração pardo-acinzentado, com cabeça grande e achatada; pode alcançar até 30 Kg. Sua carne é comercializada , principalmente no estado do Amapá, e o peixe mais apreciado por quem visita Vigia. A gurijuba pode ser encontrado em qualquer rio da região amazônica.
Pescada-amarela

A pescada-amarela (Cynoscion acoupa) é uma espécie de peixe pescada. Tais animais chegam a medir até 1,30 m de comprimento, possuindo o corpo alongado, prateado no dorso, amarelado no ventre e nadadeiras claras. Também são conhecidos pelos nomes de calafetão, cambucu, cupa, guatupuca, pescada-cascuda, pescada-de-escama, pescada-dourada, pescada-ticupá, pescada-verdadeira, tacupapirema, ticoá, ticupá e tucupapirema.
Dourada
Piramutaba
Tainha
Bacu
Pratiqueira
Mandií
Cação
Gó

Grandes Empresas do Setor Pesqueiro em Vigia
Ecomar Indústria de Pesca




Historia
O Grupo Ecomar iniciou suas atividades em 1982, está localizado na Vigia, nordeste paraense, município de tradição pesqueira. O trabalho da Ecomar é transformar o pescado em um produto pronto para o consumidor no Brasil, na América do Norte e na Europa. Um ponto forte para esta indústria é a tecnologia aliada à qualidade na transformação. Todos os detalhes, da higiene à logística de transporte - que em 24 horas coloca peixe fresco paraense à disposição de consumidores de outros países.
Responsabilidade Ambiental
A Ecomar desenvolveu uma linha de produtos alimentares de alto valor nutritivo com o aproveitamento da fauna acompanhante, espécies capturadas durante a pesca que não possuem valor comercial, mas que sem destinação correta representam alto impacto no ambiente.
Essa linha, batizada de “Medalhões de Peixe“, é produzida em escala industrial, sendo vencedora do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica/2003- região norte, na categoria produto. Os Medalhões de Peixe foram lançados durante a VI Feira da Indústria do Pará, em maio de 2002.
Infra-Estrutura
Anexo a Fábrica de processamento dos pescados, esta localizado um complexo de Infra-estrutura de apoio à produção. Esse complexo dá sustentabilidade ao novo modelo de governança corporativa adotado pela Ecomar que busca assegurar o crescimento e a perenidade dos negócios. A Ecomar concilia o aumento da sua produção com o bem estar da sua base de colaboradores.






Vipesca
Vigelo


Gelomar
A empresa Gelomar está localizada no Catuaba, Centro de Vigia.
Localizadas no bairro do Arapiranga, fábrica gelo que fornecem gelo para embarcações.
Marcelo Braga exportação de Pescados

Casa do Gelo (antiga Casa do Camarão)

Fontes consultadas:
- Pesquisa realizada por Ailson Cardoso (Ney), publicada em www.culturavigilenga.com.br
- BARROS, Bartolomeu José de. Vigia de Nazaré: fragmentos de um história. Belém: Grafinorte, 2009.
- CORDEIRO, Paulo. História da Vigia - economia, escravidão e elite agrária. Belém: Ed. Cabana, 2022.
- CORDEIRO, Paulo. O primeiro voo entre as Américas e a Canoa "Juruna". Vigia: Ed. Ind., 2016.-
- ILDONE, José. Noções de História da Vigia. Belém: Cejup,1991. - Retrografia Vigilenga