

O PORTAL DA MEMÓRIA VIGIENSE


Romanização, Tensões e Censura



AO LONGO DOS SÉCULOS a Igreja Católica ficou submissa ao padro-ado do poder real. Esse controle sobre a autonomia da Santa Sé em Portugal e, consequentemente, no Brasil, causou desentendimentos. A mobilização da Igreja no caminho para uma separação do Estado (que tinha o Catolicismo como religião oficial) e reaproximação com Roma se fortalece na segunda metade do século XIX, quando, entre outras coisas, as irmandades e instituições religiosas haviam se multi-plicado, havendo a infiltração da Maçonaria entre os membros. A ro-manização, no entanto, só se efetivaria após a instauração da Repúbli-ca, em que o Estado deixou de ter religião oficial e passou a ser laico. Na Vigia, a política romanizadora iniciou com a chegada do padre Mâncio Caetano Ribeiro, em 1873. As medidas seguiam orientações do Episcopado brasileiro, impondo controle sobre as ordens religiosas e festas de santos, especialmente o Círio, organizado pela Sociedade "Cinco de Agosto", causando tensões entre os membros da entidade e o pároco, que íam além da questão religiosa, já que eles represen-tavam o Partido Liberal, enquanto que o padre era Conservador. O conflito se arrastou e teve novos capítulos, como a expulsão do padre Ulysses Pennafort da cidade, em 1909, acusado de corrupção. Nesse ano foram extintas as irmandades. Já no paroquiado seguinte, o Monsenhor Argymiro de Oliveira Pantoja visitou a biblioteca da Socie-dade Literária "Cinco de Agosto" e encontrou vários livros condenados pela Igreja, determi-nando a remoção. O episódio virou caso de justiça e divisão de opi-niões. Por fim, os livros voltaram às estantes.


Monsenhor Argymiro Pantoja (Arquivo: Bartolomeu Barros) e alguns dos Livros condenados pela Igreja em 1910
Fontes consultadas:
BARRROS, Bartolomeu. Vigia de Nazaré: fragmentos de uma história. Belém: Grafinorte, 2009. CORDEIRO, Paulo. Obras condenadas da Sociedade "Cinco de Agosto" (1905-1913). Vigia: Ed. Cabana, 2021.
SOEIRO, Igo. A Sociedade Literária e Beneficente "Cinco de Agosto" da Cidade da Vigia. Belém: UFPA, 2012.